NOTÍCIAS DA LUSOFONIA

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

JORGE DO ABRIGO - Por: Eliel Silva


“Só se vê bem com o coração.
O essencial é invisível para os olhos.”
Exupéry

Nos Estados Unidos, lá pelos anos 20 e 30, eles eram a voz do seu país. Lemon Jefferson, Willie Mctell, Willie Johnson e outros mais. Algumas décadas depois, Ray Charles, Jeff Healey e Stevie Wonder. Astros insuperáveis, cada um com o seu estilo. Aqui no Brasil há também exemplos de deficientes visuais que se tornaram grandes músicos: o compositor e arranjador Sérgio Sá; a cantora Kátia, afilhada musical de Roberto Carlos e protegida do rei no final da década de 70 e início dos anos 80; e ainda alguns componentes da banda Tribo de Jah. Músicos que, além do talento, tiveram a sorte de encontrar o apoio, inicialmente da própria família, com certeza, mas também de pessoas influentes no meio musical.
Aqui na nossa cidade temos também o nosso artista que tomou a música como um meio para superar as barreiras encontradas pelos deficientes visuais. Mas ele não é famoso. Vive quase no anonimato. Dificilmente é convidado para se apresentar em algum evento.
Jorge Soares de Oliveira, 62 anos, mora na Casa de Caridade São Vicente de Paulo (o abrigo), onde chegou no ano de 1965. Bem acomodado num banquinho, à sombra daquela enorme casa, no final da tarde, sem mistérios, ele abre o seu coração. Me contou que com poucos dias de vida, foi deixado na porta de uma viúva, já mãe de 12 filhos. Hoje, tudo que sabe da sua infância foi sua mãe adotiva, a senhora Maria Soares de Oliveira quem lhe contou. Inclusive que o seu problema de visão foi causado em conseqüência de ter sido deixado na porta dessa mulher caridosa, desprotegido das ações do clima daquela região. Mais tarde, com a morte de sua mãe adotiva - a verdadeira ele nunca conheceu -, teve que deixar sua pequena cidade, Lagoa do Sítio, vindo para Ceará-Mirim, e se instalou no abrigo, onde mora até hoje. Nessa época, segundo ele, as coisas eram bem mais difíceis, pois na sua nova morada não existia sequer um radinho de pilha para alegrar o ambiente. Foi aí que ele resolveu aprender a tocar um instrumento. Primeiro o cavaquinho, depois o violão. Autodidata, Jorge não conhece o nome dos acordes que constrói no violão. E o mais curioso: ele é canhoto, mesmo assim não toca com as cordas invertidas e faz as posições por cima do braço do violão e não da maneira tradicional. Como ele mesmo diz, um destro pode muito bem pegar o seu violão e tocar sem problema nenhum, pois a posição das cordas não se altera.
Foi ouvinte assíduo da extinta Rádio Novos Tempos, onde aprendia novas canções ligado nos programas de Etevaldo Alves e do Coronel Ananias. Hoje, nós que fazemos o programa Jovem Guarda Especial, na 87 FM, temos a honra de ter Jorge como ouvinte que aliás, vez em quando faz solicitação de algumas músicas. Sua companheira há 25 anos, a senhora Salete Fernandes – irmã do saudoso “Pedrinho” da Igreja -, divide com nosso amigo todos os momentos da vida. As dificuldades e as alegrias.
Tempos atrás, Jorge fazia parte dos músicos que tocavam na Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Eu mesmo o vi tocando muitas vezes, e com diversos parceiros como Marcos Câmara, Ademaci, Oneida e Clóvis (aquele do cavaquinho e da flauta doce). Sobre o motivo do seu afastamento dali, ele, na sua costumeira inocência, afirma que foi devido o aparecimento de um órgão eletrônico que substituiu os outros instrumentos. A verdade meu caro Jorge, é que a questão não está no instrumento em si. O problema é a ribalta em que se transformaram alguns altares. Experiência como a sua eu também já passei. Aliás, nós somos de um tempo em que pra se chegar mais perto de Deus não carecia tanto alarde, tampouco era preciso alçar vôo em balões de gás hélio. Mas tenho certeza que o som dos seus acordes construídos em seu velho violão, na simplicidade nua dos seus momentos de descontração e louvação a Deus, se juntará a outros sons divinos, de instrumentos que certamente não se afinam ao diapasão, e será essa a maneira mais singela, pura e correta de louvar o Pai da criação.
No repertório de Jorge, há uma canção que ele não dispensa:Felicidade, de Lupicínio Rodrigues. “Felicidade foi-se embora e a saudade no meu peito inda mora e é por isso que eu gosto lá de fora, porque sei que a falsidade não vigora.” A impressão que se tem é a de que Jorge vê bem mais além...
“Em paz eu digo que eu sou o antigo do que vai adiante.
Sem mais, eu fico onde estou, prefiro continuar distante...”
(Resposta - Nando Reis / Samuel Rosa)

MATÉRIA TRANSCRITA DO BLOGUE:

domingo, 22 de janeiro de 2012

"SER POESIA. SER POETA..." DEFINIÇÃO FEITA POR: AUZÊH FREITAS/RN-BRASIL

SER POESIA. SER POETA...
Me desnudo de tudo
e sinto o absurdo que é
não acreditar
no que me veste
e me reveste.

Canso sem correr.
E o fim da caminhada
não é mais minha meta.

Quero seguir a passos lentos
tendo como único alento
a maravilhosa descoberta
que respiro e aspiro a mim mesma.

Ser Poesia. Ser Poeta.
–Auzêh Freitas/RN–

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

“UMA NOITE NO VALE” - Festival que a mais de 20 anos foi realizado em Ceará-mirim. Veja algumas imagens da época!


UMA NOITE NO VALE

Há mais de vinte anos atrás em Ceará Mirim foi realizado o  festival “UMA NOITE NO VALE”, nos salões do  Centro Esportivo e Cultural, mais precisamente dia  20 de agosto de 1988. A promoção da  Escola Estadual Barão de Ceará-Mirim, na gestão de Maria de Lujan Silva Rodrigues e Maria da Conceição Araújo Silva (D. Maria Xandu-in memorian), teve como  objetivos: homenagear ex-prefeitos de Ceará-Mirim e arrecadar fundos para restauração de uma sala pedagógica que atenderia alunos portadores de necessidades especiais. A animação foi da Banda FERAS (Parelhas-RN). Um detalhe peculiar: o cerimonial de entrega dos diplomas de Honra ao Mérito a ex-prefeitos e representantes in memorian, foi conduzido pelas próprias Diretora e Vice-Diretora: De Lujan e Maria Xandu.  A sociedade em peso marcou presença. Abaixo, registros do significativo evento. Alguns dos que estão nas fotos já faleceram.










MATÉRIA TRANSCRITA DO BLOGUE: CHAMINÉ

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

ADEMAR MACEDO ENVIA-ME "M E N S A G E N S P O É T I C A S"


Uma Trova Nacional
Existe tanta união
entre os teus sonhos e os meus,
que só não és meu irmão
por um descuido de Deus!
–Arlindo Tadeu Hagen/MG– 
Uma Trova Potiguar
Auroras da juventude
o tempo de mim levou;
quis repeti-las, não pude,
a velhice não deixou.
–Francisco Maia/RN–
Uma Trova Premiada
2007 - São Paulo/SP
Tema - TEMPO - Venc.
Tempo, em meu rosto conjugas
os verbos “ser” e “sonhar”:
um na verdade das rugas;
outro, no brilho do olhar.
–Antônio de Oliveira/SP– 
Uma Trova de Ademar
Deus demonstrando poder,
quando a mulher engravida;
transforma a dor em prazer,
na celebração da vida!
–Ademar Macedo/RN–
...E Suas Trovas Ficaram
Eu ...você ...as confidências...
o amor que intenso cresceu
e o resto são reticências
que a própria vida escreveu...

–Luiz Otávio/RJ– 
Simplesmente Poesia
VELA BRANCA
Vela branca, vela branca,
que vais lá longe... no mar...
quem me dera, vela branca,
que me quisesses levar
para tão longe... tão longe,
que eu não pudesse voltar...
 

Mas uma vez, vela branca,
que não me queres levar,
para tão longe... tão longe...
que eu não pudesse voltar,
leva-me a saudade dela
para o mais fundo do mar.
 –Adelmar Tavares/PE–
Estrofe do Dia
Um leirão de cebola numa horta
onde esterco de gado aduba a terra
uma casa encostada ao pé da serra
construída de barro e vara torta
uma estopa vazia fecha a porta
mas me orgulho em dizer: fui eu que fiz,
uma cruz desenhada com um giz
prá poder espantar assombração
eu não troco um pedaço do sertão
pelo resto das terras do país.
–Onildo Barbosa/PB–
Soneto do Dia
A INTRUSA
Teimava em me seguir, eu bem que percebia...
Tinha modos gentis. Simpática (não bela).
Não queria assustar-me, andava com cautela,
diferente do andar da grande maioria.

Eu sempre recusei lhe fazer companhia,
embora esta mulher me fosse sentinela
em horas de descanso. Eu não gostava dela
pela insistência atroz com que me perseguia.

Seu nome? Não sabia. Apelidei-a a Intrusa.
Eu lhe fechava a porta, exibindo a recusa
de comigo a reter na partilha do lar.

No espelho, certo dia, atrás de mim postou-se...
Quis irritar-me? Sim. Mas disse com voz doce:
- Eu me chamo Velhice e vim para ficar.
–Miguel Russowsky/SC–

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

MENSAGENS POÉTICAS PARA DESCONTRAIR

Uma Trova Nacional 
Quando a vida se distrai
ou dá tudo... Ou tudo nega.
Rico... Pega o carro e sai.
Pobre sai...  E o carro pega!
– Terezinha Brisolla/SP  
Uma Trova Potiguar
Três invenções sem futuro:
Carro, mulher e baralho.
As três me deixaram “duro”,
não sei quem deu mais trabalho!
– Francisco Macedo/RN –
Uma Trova Premiada
2008 - Bandeirantes/SP
Tema - TRABALHO - M/E
- Carro velho, meu amor,
dá trabalho: além de feio,
no morro, falta motor;
na ladeira... falta freio!
– José Ouverney/SP  
Uma Trova de Ademar
O meu Chevette é incomum
e vou lhe dizer porque é:
é porque ele é “três em um”...
Carro, bar e cabaré.
– Ademar Macedo/RN  
...E Suas Trovas Ficaram
Quando a mulher do Gastão
troca de carro ou vestido,
a gente tem a impressão
que ela trocou de marido!...

– Aloísio Alves da Costa/CE 
 
Simplesmente Poesia
O QUE EU FAÇO SEM GOSTAR...  
Promover um forró sem tocador
e pregar com pastor embriagado,
galopar com jumento encangalhado
e viajar no meu carro sem motor;
trabalhar com patrão enganador
e contratar um ladrão pra me roubar,
pegar filho dos outros pra criar,
mascar fumo e montar em égua tonta,
me juntar com mulher que bota ponta
são as coisas que eu faço sem gostar!
– Louro Branco/CE  
Estrofe do Dia
Carrego aleijado e cego,
bode, porco e urubu,
mas aqueles “tribufu”
no meu carro eu não carrego;
furo o pneu com um prego
atolo o carro na areia,
dou dentada na correia
pra vê se ela se arrebenta;
mas no meu Gol não se senta
veado nem mulher feia.
– Ademar Macedo/RN   
Soneto do Dia
AZAR  
Certo dia, acordei de mau humor –
resquício de uma noite mal dormida.
Peguei o carro, e então fundiu o motor,
Segui para o metrô, enfurecida.

Tentei continuar com minha lida,
mas fiquei presa num elevador.
Neste compartimento sem saída,
passei horas de angústia e terror,

e saí sob o som de bate-estaca.
Depois, no meio de um supermercado,
senti a dor de um burro quando empaca.

Foi aí que vi, quase ao meu lado,
irônicos dizeres numa placa:
“Sorria. Você está sendo filmado!”
– Renata Paccola/SP